Nota informativa

Nota Informativa:

Desejo salientar a todos que acompanham o blog do programa cristocêntrico, que nem todas as matérias deste blog não diz respeito a filosofia ou doutrina da direção do programa cristocêntrico ou da Assembléia de Deus de Caaporã.

A direção.

sábado, 15 de setembro de 2012

Entre os mitos comuns no mainstream evangélico contemporâneo (assim como das seitas que se destacam dele) está uma certa concepção acerca da Igreja Primitiva. Essa concepção não é totalmente sem fundamento, mas surge de um conjunto de exageros que se explicam tanto pelo pouco conhecimento das Escrituras (nossa primeira fonte, ao tratar da Igreja Primitiva) quanto pela ingenuidade acerca da história do desenvolvimento da Igreja cristã.

É parte da retórica proselitista sectária a Ideia de que a Igreja Primitiva haja sido uma Igreja perfeita, com a doutrina correta, a santidade correta, os costumes corretos, a administração correta, tudo correto, e que a Igreja atual (ou as igrejas atuais) seja um desvio dessa perfeição inicial. As seitas cristãs (testemunhas de Jeová, mórmons, adventistas, etc) fazem uso desse erro, em maior ou menor medida. Mas também o faz, de fato, grande número de protestantes quando busca criticar a Igreja católica.

Em parte essa concepção é justificável, na medida em que um estado ideal de coisas, submetido ao caos do comportamento humano, à “entropia” do tempo, às influências externas, só pode tender da perfeição para a imperfeição.

Em parte também se justifica tendo em conta que o conhecimento mais imediato que temos da Igreja Primitiva em sua origem é o Novo Testamento, que é o nosso modelo de comportamento, conduta, crença. Ao passo que o Novo Testamento tem um conteúdo ético (regras de comportamento), tem também um conteúdo histórico-narrativo, muitas vezes como parte de um mesmo texto, mas que não é explicitamente endossado ou condenado pela própria Escritura. Trata-se, portanto, de uma leitura pobre das Escrituras.

Entretanto, a ideia inicial, de que Igreja primitiva fosse perfeita e um modelo em todos os aspectos, é absurdamente falsa. Uma simples leitura do Novo Testamento já é suficiente para esclarecer isso, e por isso não vejo ser necessário provar isso aqui, ao menos por hora. Desejo apenas que o eventual leitor desse texto reflita sobre o tema. A Igreja primitiva estava dividida (o partido de Jerusalém de um lado, o partido de Paulo de outro, como vemos em Gálatas), havia diversas heresias (que negavam a ressurreição futura, ou que negavam a entrada de gentios na igreja), e todos os pecados de hoje haviam na época.

É preciso ter em mente: nem tudo na Igreja primitiva era correto ou apontado por Deus. Além dos pecados e heresias, havia problemas estruturais. Se, por exemplo, a prática de congregar-se em casas, como havia na Igreja primitiva, tivesse dado certo, nunca teriam deixado de fazê-lo. Há também o mito de que a Igreja primitiva não era hierárquica (quando, na realidade, era muito mais do que hoje), mas não é momento para discutir diretamente esse ponto. A questão é que acredita-se hoje que a hierarquia é algo mau, e projeta-se essa ideia em direção à igreja primitiva, como se a hierárquica eclesiástica fosse uma criação da “idade das trevas” (um outro mito, uma época que nunca existiu). Também é errado pensar que todas as mudanças foram para pior, na passagem da Igreja Primitiva para Igreja Medieval. Trata-se de preconceito e ignorância acerca do tema.

E havia santos entre eles (rodeados por uma nuvem de pecadores), sim, mas também os há entre nós. O número de pessoas de fé sempre foi pequeno, em toda a história do cristianismo, se comparado ao número de verdadeiros santos. Jesus morreu por culpa de um discípulo; já não basta isso?

Em verdade o acúmulo de erros desde a Igreja primitiva é muito grande. Mas, guardando-se a devida proporção, não há motivos para pensar que a Igreja de hoje seja “pior” que a Igreja de 2 milênios anos atrás. Temos mais heresias hoje, mas só podemos imaginar que o número delas cresça à medida que cresça o número de cristãos. Se todos os cristãos tivessem sido mártires (no sentido mais próprio), não haveria cristianismo.



G. Montenegro.

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